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domingo, 2 de maio de 2010

"A terceira mão"

A Terceira Mão

Texto enviado por Filipa Norte..

"E ainda hoje posso recordar o som do malho sobre o ferro em brasa, afeiçoando a lâmina, e o cheiro de corno de vaca aquecido, do qual se obtinha o cabo. No mundo rural, o canivete era o instrumento mais universal, acompanhando toda a vida quotidiana. Era a terceira mão, tão indispensável como as outras duas. Era tratado com todo o cuidado, evitando-se que fosse atingido pela ferrugem e cuidando do fio de corte, que não podia ter falhas ou rombos. Pouco volume fazia nos bolsos camponeses, onde entrava de manhã, com o lenço e a onça de tabaco para os fumadores. Havia-os de diversos feitios, mas o canivete de uso mais generalizado tinha a ponta em forma de quatro de círculo. Com ele se cortava o pão, naquela atitude tão característica do campo (o naco seguro pela mão esquerda, encostado ao peito, enquanto a direita corta uma fatia com um movimento orientado de fora para dentro), se abria o pepino com dois golpes cruzados pelos quais se deitava o sal grosso. Com ele se cortava a cebola em pequenos gomos e se pegava na sardinha ao lume (entalando a respectiva cabeça entre o polegar e a lâmina do canivete), que era em seguida depositada sobre a fatia de pão ou o prato de folha esmaltado. Com ele, como se fora um garfo, se espetavam as batatas cortadas ao meio e se levavam à boca. Com ele se retalhavam azeitonas e se golpeavam as tiras de toucinho antes de as dispor sobre as brasas de videira. Com ele se aparava a ponta de um graveto com o qual se palitavam os dentes, depois da refeição. Com ele se limpavam as botas enlameadas e se entalava papel ensebado nas frinchas dos tonéis. Com ele se dava o corte orientador do rasgão que iria ser feito na saca de serapilheira, com ele se dava forma de rolha a um bocado de cortiça. Com ele se cortavam unhas de humanos e se aparavam cascos de animais. Com eles se apertava, em caso de necessidade, um parafuso e se desencravava um espinho da palma da mão. Com ele se desenhava no chão um caminho ou uma casa, com ele se assinalava com o nome, ou simplesmente uma cruz, numa superfície acabada de revestir a cimento. Com ele, na hora do descanso, se davam asas à imaginação, escavando pedaços de madeira macia donde sairiam miniaturais maravilhas, ou compondo um pífaro em pau de cana. Com ele se afiavam lápis na escola e abriam cartas e, excepcionalmente, livros. Com ele um homem podia fazer frente a perigos reais ou imaginários. Com ele um homem nunca se sentia só."

Excerto do livro "Crónicas dos anos 50/60" do escritor João Serra, in Catalogo de Canivetes - ICEL







The third hand

Today, I can still rememberthe souRd ofthe hand-hammer striking the red-hot iron, and moulding the blade; and also the smell of the hot cow hornof which the handle was made. In the rural world, the pocket-knife used to be the most common tool, being part of day to day life. ft was seen asthe third hand, so indispensable as the other two. ft was handled with ali the care in the world, to avoid it becoming rusty; likewise, the edge was carefully preserved from f1aws or blunts.

ft weighted little in countrymen's p'ockets, were it staid from dawn on, together with the handkerchief and an ounce of tobacco for smokers.

Afthough there were a thousand shapes, the quarter of circle edge was the most usual one.

One could cut bread with it, in the typical feature of the country (the piece of bread held in the left hand, close to the chest, while the right hand slices it, in an inward-outward movement); one could a/so slash open a cucumber drawing a cross on top of it, and salting it with coarse saft. A pocket-knife was used to finger-cut onions and to pick sardines from the burning coal (pressing the head of the sardine between the thumb and the knife blade); then it was placed on the slice of bread or on an enamel-plated dish. Just like a fork, it was used to stick potato halves and take them to the mouth. Olives could be cut into small pieces and bacon was also slashed before being laid on a vine-Ieaf mantle over burning coa/. These little tools served to sharpen wooden sticks to pick teeth after a mea/; muddy boots were cleaned; tallow greased paper was tucked away in gaps of large casks; likewise, they were used to precisely cut and tear the cloth-sack. The pocket-knife served to shape and mould cork into astopper; it also served for nail-cutting on man and removing casks of animaIs. In case of need, it worked like a screwdriver; unnailing a thorn from one's hand palm was also one of its purposes. It could also drawa path or a house on the ground. On freshly cemented surface, it served to mark names or merely a crosS. At break time, one could give full scope to one's imagination, carving soft wooden marvellous miniature pieces, or shaping up a fife made up of cane wood. Pocket-knives could also work as penci! sharpeners at school, letters could be opened, and some times even books. Man could face any danger - real or imaginary. Man never feft alone with a pocket-knife.

Book "Crónicas dos anos 50/60" by João Serra, in ICEL - Catalog of Pocket-Knives

segunda-feira, 8 de março de 2010

"A portuguesa" de faca e garfo


Este artigo retirado do Jornal Nordeste foi-me gentilmente cedido por Hugo Martins da Fábrica MAM sediada Em Palaçoulo fabricante da navalha portuguesa mais vendida no Mundo.
Filmam já produziu mais de 6 milhões de unidades de canivete com cabo em forma de pipo


Faca e garfo com a marca de Palaçoulo

Em 30 anos em produção, a fábrica de navalhas Filmam já comercializou cerca de 6 milhões daquele que é um modelo “exclusivo” desta fábrica de cutelarias sedeada em Palaçoulo, concelho de Miranda do Douro.

Trata-se de um instrumento de corte em forma de pipo, composto por lâmina e garfo, que está considerado um verdadeiro embaixador da indústria transmontana.
Tudo começou há 3 décadas, quando o patriarca da família Martins lançou a ideia de fabricar um modelo assente num cabo oval, mas de aspecto mais tosco.
Segundo Domingos Martins, sócio gerente da Fábrica Filmam, este formato acarretava custos de produção mais altos, quase o triplo de uma tradicional peliqueira, o que levou a empresa a procurar soluções mais acessíveis.
“Com a invenção do cabo redondo da navalha, que nunca antes fora utilizado em Portugal por uma fábrica de cutelarias, conseguimos fabricar o canivete muito mais barato”, explica o responsável.
E para que não houvesse dúvidas quanto à originalidade do suporte da navalha em forma de pipo, a Filmam registou o modelo no Instituto Nacional de Propriedade Industrial.

Modelo está registado
no Instituto Nacional
de Propriedade Industrial

Esta revolução no conceito de fabricar canivetes levou à sua produção em massa, através de máquinas exclusivas para este modelo, também elas inventadas pelos donos da fábrica de navalhas Filmam.
Além de associar a faca e o garfo num só cabo, a forma de pipo permite transportar o canivete sem danificar os bolsos.
“Desde logo, este modelo está associado aos pescadores, aos homens da lavoura e aos pastores, pois é muito útil no seu dia a dia, tanto para cortar como para servir de talher para comer merendas”, garante Domingos Martins.
Mesmo com o registo no INPI, o certo é que o modelo da Filmam já foi alvo de imitações, tanto da parte de empresas portuguesas, como de fábricas chineses, embora sem a qualidade das navalhas “made in” Palaçoulo. “O que nos valeu foi o registo do modelo, que foi feito atempadamente. Temos três registos patenteados, que começam no cabo e terminam no garfo”, revela o empresário
6 milhões de unidades depois, a Filmam garante que o modelo vai continuar a ser produzido em força, pois tanto é vendido para usos próprio, como para servir de “souvenir” de Portugal
Esta navalha encontra-se à venda um pouco por todo o país sendo mesmo um”souvenir” de Portugal e, até mesmo, como recordação de em festas de casamentos.




Por: Francisco Pinto

Secção do Jornal Nordeste de 2010/03/02

sexta-feira, 5 de março de 2010

Porque gosto de canivetes..


Porque gosto de Canivetes.

Nunca fui um homem violento, nunca participei em grandes altercações e em todas as situações em que estive envolvido sempre privilegiei o diálogo.
Mesmo nas poucas situações em que foram necessárias posições de força fi-lo sobretudo para apaziguar os ânimos, em função do meu sentido de justiça, muito mais na defesa do outrem do que por causa própria.
Em nenhuma dessas ocasiões saquei de uma lâmina, mesmo em alturas em que tinha duas ou três no bolso, mesmo em ocasiões em que tive lâminas apontadas a mim.
Faço questão de precisar isto antes de qualquer coisa, acima de tudo porque não sou nem nunca fui um “Rambo”, acima de tudo porque de todo não sou nem nunca serei violento.
Precisava de frisar isto para não enganar aqueles que esperavam encontrar neste texto fundamentos para fazer a apologia do uso dos canivetes como arma de ataque, quem estivesse à espera que o fizesse pode parar aqui a sua leitura, não é com certeza a eles que este texto se dirige.
Quem continuar a ler-me, perceberá aqui a necessidade desta precisão, perceberá que é sobretudo o imperativo categórico da não utilização de canivetes como arma de ataque que distingue os homens e mulheres de canivete dos outros, sejam eles belicistas (os que não resistem a dar uma naifada e que só conseguem ver os canivetes como instrumentos para tal) ou pânico/pacifistas (aqueles que assim que vêem uma navalha em cima de uma mesa se alarmam logo e que se põem com conjecturas sobre o que somos, só porque temos uma navalha).
É verdade que cada vez mais os canivetes tem sido associados ao crime, mas se isso acontece é tanto pelos belicistas que o usam, como pelos pânico/pacifistas que com ideias de protecção das crianças, nos canivetes como em tantas outras coisas, os privaram de aprender a usa-los e a viver a vida de uma forma natural, conscientes dos riscos e dos limites.
Quem for realmente um homem ou mulher de canivete, partilhara comigo a minha oposição aos belicistas, pela sua natureza violenta e a minha recusa em ver as peças de cutelaria sobretudo como armas de ataque, partilhara também a minha dificuldade em entender aqueles que são pânico/pacifistas sobretudo porque ainda não consigo perceber a razão das criticas que fazem, e já tenho ouvido tantas, pois quando confrontados com situações em que precisam de uma lamina não tem o mínimo pudor em engolir o que nos disseram e não resistem a pedir-nos a nossa.
Ser homem/mulher de canivete é saber respeitar a lamina, mas acima de tudo o outrem, é sobretudo encarar o canivete como um instrumento utilitário e versátil, nas várias actividades do dia a dia, sendo bastante útil para realizar tarefas mais simples como o descascar de uma maça, ou mais complexas, como soltar-nos de um cinto de segurança bloqueado depois de um acidente ou defender-nos de uma ataque de um animal feroz.
Ser homem/mulher de canivete é partilhar de um legado quase intemporal, beber a essência dos nossos antepassados desde as origens mais remotas, dar valor a toda essa ancestralidade e tradição que marcou a evolução dos instrumentos de cutelaria desde a pré-história das pedras de sílex até aos multi-ferramentas e à graciosidade das falkniven.
Ser mulher e homem de canivete é ter sido criança de canivete, é ter recebido um canivete dos nossos pais ou avós e ter com eles, com a experiencia deles aprendido a brincar com as laminas, ter aprendido a fazer papagaios de papel com elas, ter andado pelos campos e matos com canivetes no bolso a desbravar novos mundos na nossa meninice.
Todos os verdadeiros homens e mulheres de canivete, tenham eles um canivete ou mil começaram assim, com uma prenda dos pais ou avós, um primeiro canivete dado como se de um legado precioso se tratasse, como se mais do que uma dadiva simples fosse um rito de passagem, e em algumas culturas, como em algumas aldeias de Portugal era-o assim de facto.
Foi assim comigo, será assim com os meus filhos, farei assim com os meus netos.
Se bem que no meu caso a dádiva nunca foi bem assumida, pois para não criar grandes confusões, com algumas pessoas que não nos entendiam, o meu avô materno mantinha os canivetes sob alçada dele, mas cada um dos netos tinha o seu preferido e usava-o sempre.
Nunca esquecerei a primeira vez que usei o canivete de que mais gosto, o velhinho OKAPI do meu avô, foi numa vindima quando tinha seis anos, e hoje, quase trinta anos depois ainda o tenho comigo e continua com uma esplêndida capacidade de corte.
Nunca esquecerei também umas férias aos 18 anos num campo de trabalho na serra da Arrábida, a fazer vigilância florestal, em que um velhinho Palaçoulo garfo e faca, adquirido uns anos antes em Guimarães foi fiel companheiro de trabalho até à exaustão, sempre que era preciso, tendo-se superiorizado em algumas tarefas como o corte de galhos e silvas às facas de mato e ao canivete suíço de um amigo meu, tão em voga na altura devido ao MacGyver.
Com a morte do meu avô materno fiquei a pedido da minha avó com os seis canivetes dele, três icel, um Ivo, o okapi e curiosidade das curiosidades um canivetezinho de duas láminas prateado, com uma corrente para prender ao cinto que tinha sido a primeira prenda de natal que eu lhe tinha dado na vida e que comprei numa feira da minha aldeia.
A esses canivetes juntei o palaçoulo de que falei acima e um canivete estilo suíço que aos 19 anos me foi oferecido pelo meu irmão Raul e dei assim inicio àquela que é de todas as colecções que tenho a que mais estimo e que vai já em mais de 200 peças, tendo ao longo destes anos comprado muitos, recebido muitos, graças ao meu irmão Raul, à minha irmã Rita, à minha adorada pequena Ana e à minha madrinha adoptiva Júlia, mas também tido o cuidado de pedir aos familiares mais próximos que me dessem um dos seus canivetes ou facas como recordação deles, para que mais tarde possam vir a ser dados aos meus filhos e netos,
Foi assim com a minha mãe que me deu o canivete que ela usava na bolsa dos lápis, com o meu pai que me deu a faca de mato que ele tinha e que eu cobiçava desde criança.
Foi assim com o meu avó paterno que me deu dois ou três canivetes, entre os quais o primeiro canivete estilo suíço Português que vi e trocou comigo o velhinho palaçoulo que a minha avô ainda usava, e com um tio avó paterno, pessoa a quem muito estimo e que é senhor de vários canivetes que ainda não me atrevi a ver, mas que quando lhe pedi uma recordação dele me deu, sem reticencias e sem que lho tenha pedido especificamente um canivete gravado à época comemorativo das Vitorias do Benfica em 1966.
Foi assim com o meu grande amigo Vitorino, que me deu entre outras magnificas peças uma maravilhosa adaga da primeira guerra e uma velhinha e bela faca ponta e mola.
Posso considerar-me um privilegiado pois ao longo destes anos tenho conseguido algumas relíquias, porque tenho aprendido a ser homem de canivetes com pessoas como o com o Sr. Paixão, que entretanto já faleceu e que tinha uma colecção magnifica, ou com o Carlos Norte, verdadeiro timoneiro destas lides, não só pela maravilha das peças que vende mas pelo amor que tem à cutelaria e pela paciência que tem comigo, mas acima de tudo porque tenho pessoas de quem gosto, pais, avós, tios-avós, irmãos e amigos, que aceitam este viciozinho, alguns a custo e que mo ajudam a alimentar, sendo que alguns deles, com umas ofertazinhas minhas (não há nada que a beleza das peças do Carlos não faça) se vão aos poucos convertendo em homens e mulheres de canivete.
Acima de tudo porque um dia poderei dar aos meus filhos, netos ou sobrinhos, a minha colecção e assim parte de mim, gesto sem o qual continuar a faze-la não teria sentido, não escondendo no entanto que adoro esta sina constante de procurar o canivete ideal que me faz ir trocando de peça de vez em quando, mas isso dava outra história.

Pedro Antunes..

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

A fábrica

Aqui publico algumas das fotos tiradas na fábrica de cutelarias CIOL





homens de canivete

Homens de Canivete

Fernando Sabino


Os homens, incidentemente, se dividem também em duas categorias: os que são
e os que não são de canivete.

Eu, por mim, confesso que sou homem de canivete. Meu pai também era: tinha
na gaveta da escrivaninha um canivete sempre à mão, um canivetinho alemão
com inscriçõesd e propaganda da Bayer. Não se tratava de arma de agressão,
mas, ao contrário, destinava-se, como todo canivete, aos fins mais pacíficos
que se pode imaginar: fazer ponta num lápis, descascar ma laranja, limpar as
unhas.

É, aliás, o que sucede com todos os homens arrolados nesta categoria a que
honrosamente me incluo – os homens de canivete: são pessoas de boa paz e que
só lançariam mão dele como arma defensiva quando se fizesse absolutamente
necessário.

Alegria de criança que não abandona o homem feito: a de ter um canivete. Era
de se ver a excitação de com que meu filho de dez anos me pediu que não
deixasse de lhe comprar um na Alemanha. È perigoso – advertem os mais
velhos, cautelosos – cautela que não resiste à minha convicção de que o
menino saberá lidar com ele como é mister, pois tudo faz crer que virá a
ser, como o pai, um homem de canivete.

Os mineiros geralmente são. Quem descobriu isso, penso, foi o Otto, que não
deixa de sâ-lo, ainda que de chaveiro e, certamente, por atavismo – pois me
lembro da primeira pergunta qe lhe fez seu pai ao chegar um dia ao Rio:

- Você sabe onde fica uma boa cutelaria?

Sempre fui um grande freqüentador de cutelarias. Quando o poeta Emílio Moura
aparece pelo Rio, não deixo de acompanhá-lo a uma dessas casas para olhar
uns canivetes – pois se trata de um dos mais autênticos homens de canivete
que eu conheço, e dos de fumo-de-rolo. Entre meus amigos mais chegados,
embora nem todos o confessem, muitos fazem parte dessa estranha confraria.
Paulo Mendes Campos não esqueceu de recomendar-me determinada marcad e
canivete ao saber de minha viagem – e, se bem me lembro, seu pai é um dos
infalíveis portadores de canivete que se tem notícia. Rubem Braga também
deixou-se denunciar numa esplêndida crônica, “A Herança”, que pode ser lida
em *Borboleta Amarela*, a respeito de um irmão que abria mão de tudo, mas
reclamava do outro a posse de um canivete.

Alguns continuam sendo homens de canivete, mesmo que hajam perdido o seu
ainda na infância. Aliás, os homens de canivete vivem a perdê-lo, não sei se
pelo prazer de adquirir outro. Para identificá-lo, basta estender a mão e
pedir: me empresta aí o seu canivete. Se se tratar de alguém que o seja,
logo levará naturalmente a mão ao bolso e retirará o seu canivete. Foi o que
fez Murilo Rubião, por exemplo, que é outro: ao chegar da Espanha, a
primeira coisa que me exibiu foi seu belo canivete, adquirido em Sevilha.

Para terminar, digo que não há desdouro algum em não ser homem de canivete.
Há homens de ferramenta, de isqueiro, de chaveiro e até de tesourinha.
Graciliano Ramos não era homem de navalha? Homens de revólver é que não são
uma categoria das que mais admiro: até parece que não são homens, para
precisar de uma proteção que lhes poderia propiciar, em caso de necessidade,
um simples canivete.

(*in **As melhores crônicas de Fernando Sabino**, *Rio de Janeiro, Record,
1986 - pp. 165-7)

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

O "capa grilos"



Transcrevo parte de uma explicação dada por Carlos Norte sobre o canivete "capa grilos"

"A navalha chama-se Relvas em honra da aldeia onde praticamente toda a população está ligada á cutelaria. Ou trabalham nas industrias de cutelaria da Relvas, Santa Catarina ou Benedita, ou são artesãos de cutelaria que ganham a vida a vender nas feiras as peças que produzem.

O modelo de inspiração desta navalha, é o famoso "capa-grilos", que pela forma muito característica da lamina, permite cortar com muita precisão com o bico da lamina. Por exemplo, ainda hoje é vendida para empresas de publicidade, pois é prática para trazer no bolso e cortar vinil com precisão.

A forma "lombuda" do fio, e a lamina mais larga na ponta, mostra que antigamente era forjada a martelo esticando e compactando o aço na zona onde ela precisa cortar melhor. Era e é uma peça para trabalhos de precisão com muito poder de corte, e uma ferramenta de trabalho usada em muitas profissões.

Históricamente, encontram-se navalhas muito parecidas em mais locais da Europa que reclamam a sua origem, mas quase sempre junto ao mediterrâneo, como a Itália e sul da França, o que leva a crer que se aqui já era fabricada à muitos séculos, terá sido um modelo com algum carisma pelo menos desde a idade média, e inventando um pouco, pode-se quase concluir que se espalhava por rotas marítimas junto á costa, muito provavelmente desde a idade do ferro.

Existe alguma controversia em relação á forma em curva do cabo, mas nos modelos mais antigos do "capa-grilos" a curva é quase sempre ao contrário desta navalha Relvas, ou seja, curvada para baixo em vez de curvada para cima"

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

As Navalhas tradicionais portuguesas

AS fotos que se seguem são parte de um projecto de recolocamento e investigação sobre as navalhas e canivetes tradicionais portugueses.
Foi tiradas de uma mini exposição realizada na casa Antero ,em dezembro de 2009,uma casa de petiscos muito conhecida nas Caldas da Rainha e que me pareceu um bom local para testar a reacção das pessoas aos modelos apresentados.
Os tres quadros compreendem uma mostra de modelos tradicionais,canivetes de trabalho e de colecção ,sendo inclusive uma das navalhas feita ,ou melhor refeita por mim.As gravacçoes e os desenhos são da minha autoria.A maioria dos modelos foram fabricados na fábrica CIOL .