Aqui publico algumas das fotos tiradas na fábrica de cutelarias CIOL
terça-feira, 23 de fevereiro de 2010
homens de canivete
Homens de Canivete
Fernando Sabino
Os homens, incidentemente, se dividem também em duas categorias: os que são
e os que não são de canivete.
Eu, por mim, confesso que sou homem de canivete. Meu pai também era: tinha
na gaveta da escrivaninha um canivete sempre à mão, um canivetinho alemão
com inscriçõesd e propaganda da Bayer. Não se tratava de arma de agressão,
mas, ao contrário, destinava-se, como todo canivete, aos fins mais pacíficos
que se pode imaginar: fazer ponta num lápis, descascar ma laranja, limpar as
unhas.
É, aliás, o que sucede com todos os homens arrolados nesta categoria a que
honrosamente me incluo – os homens de canivete: são pessoas de boa paz e que
só lançariam mão dele como arma defensiva quando se fizesse absolutamente
necessário.
Alegria de criança que não abandona o homem feito: a de ter um canivete. Era
de se ver a excitação de com que meu filho de dez anos me pediu que não
deixasse de lhe comprar um na Alemanha. È perigoso – advertem os mais
velhos, cautelosos – cautela que não resiste à minha convicção de que o
menino saberá lidar com ele como é mister, pois tudo faz crer que virá a
ser, como o pai, um homem de canivete.
Os mineiros geralmente são. Quem descobriu isso, penso, foi o Otto, que não
deixa de sâ-lo, ainda que de chaveiro e, certamente, por atavismo – pois me
lembro da primeira pergunta qe lhe fez seu pai ao chegar um dia ao Rio:
- Você sabe onde fica uma boa cutelaria?
Sempre fui um grande freqüentador de cutelarias. Quando o poeta Emílio Moura
aparece pelo Rio, não deixo de acompanhá-lo a uma dessas casas para olhar
uns canivetes – pois se trata de um dos mais autênticos homens de canivete
que eu conheço, e dos de fumo-de-rolo. Entre meus amigos mais chegados,
embora nem todos o confessem, muitos fazem parte dessa estranha confraria.
Paulo Mendes Campos não esqueceu de recomendar-me determinada marcad e
canivete ao saber de minha viagem – e, se bem me lembro, seu pai é um dos
infalíveis portadores de canivete que se tem notícia. Rubem Braga também
deixou-se denunciar numa esplêndida crônica, “A Herança”, que pode ser lida
em *Borboleta Amarela*, a respeito de um irmão que abria mão de tudo, mas
reclamava do outro a posse de um canivete.
Alguns continuam sendo homens de canivete, mesmo que hajam perdido o seu
ainda na infância. Aliás, os homens de canivete vivem a perdê-lo, não sei se
pelo prazer de adquirir outro. Para identificá-lo, basta estender a mão e
pedir: me empresta aí o seu canivete. Se se tratar de alguém que o seja,
logo levará naturalmente a mão ao bolso e retirará o seu canivete. Foi o que
fez Murilo Rubião, por exemplo, que é outro: ao chegar da Espanha, a
primeira coisa que me exibiu foi seu belo canivete, adquirido em Sevilha.
Para terminar, digo que não há desdouro algum em não ser homem de canivete.
Há homens de ferramenta, de isqueiro, de chaveiro e até de tesourinha.
Graciliano Ramos não era homem de navalha? Homens de revólver é que não são
uma categoria das que mais admiro: até parece que não são homens, para
precisar de uma proteção que lhes poderia propiciar, em caso de necessidade,
um simples canivete.
(*in **As melhores crônicas de Fernando Sabino**, *Rio de Janeiro, Record,
1986 - pp. 165-7)
Fernando Sabino
Os homens, incidentemente, se dividem também em duas categorias: os que são
e os que não são de canivete.
Eu, por mim, confesso que sou homem de canivete. Meu pai também era: tinha
na gaveta da escrivaninha um canivete sempre à mão, um canivetinho alemão
com inscriçõesd e propaganda da Bayer. Não se tratava de arma de agressão,
mas, ao contrário, destinava-se, como todo canivete, aos fins mais pacíficos
que se pode imaginar: fazer ponta num lápis, descascar ma laranja, limpar as
unhas.
É, aliás, o que sucede com todos os homens arrolados nesta categoria a que
honrosamente me incluo – os homens de canivete: são pessoas de boa paz e que
só lançariam mão dele como arma defensiva quando se fizesse absolutamente
necessário.
Alegria de criança que não abandona o homem feito: a de ter um canivete. Era
de se ver a excitação de com que meu filho de dez anos me pediu que não
deixasse de lhe comprar um na Alemanha. È perigoso – advertem os mais
velhos, cautelosos – cautela que não resiste à minha convicção de que o
menino saberá lidar com ele como é mister, pois tudo faz crer que virá a
ser, como o pai, um homem de canivete.
Os mineiros geralmente são. Quem descobriu isso, penso, foi o Otto, que não
deixa de sâ-lo, ainda que de chaveiro e, certamente, por atavismo – pois me
lembro da primeira pergunta qe lhe fez seu pai ao chegar um dia ao Rio:
- Você sabe onde fica uma boa cutelaria?
Sempre fui um grande freqüentador de cutelarias. Quando o poeta Emílio Moura
aparece pelo Rio, não deixo de acompanhá-lo a uma dessas casas para olhar
uns canivetes – pois se trata de um dos mais autênticos homens de canivete
que eu conheço, e dos de fumo-de-rolo. Entre meus amigos mais chegados,
embora nem todos o confessem, muitos fazem parte dessa estranha confraria.
Paulo Mendes Campos não esqueceu de recomendar-me determinada marcad e
canivete ao saber de minha viagem – e, se bem me lembro, seu pai é um dos
infalíveis portadores de canivete que se tem notícia. Rubem Braga também
deixou-se denunciar numa esplêndida crônica, “A Herança”, que pode ser lida
em *Borboleta Amarela*, a respeito de um irmão que abria mão de tudo, mas
reclamava do outro a posse de um canivete.
Alguns continuam sendo homens de canivete, mesmo que hajam perdido o seu
ainda na infância. Aliás, os homens de canivete vivem a perdê-lo, não sei se
pelo prazer de adquirir outro. Para identificá-lo, basta estender a mão e
pedir: me empresta aí o seu canivete. Se se tratar de alguém que o seja,
logo levará naturalmente a mão ao bolso e retirará o seu canivete. Foi o que
fez Murilo Rubião, por exemplo, que é outro: ao chegar da Espanha, a
primeira coisa que me exibiu foi seu belo canivete, adquirido em Sevilha.
Para terminar, digo que não há desdouro algum em não ser homem de canivete.
Há homens de ferramenta, de isqueiro, de chaveiro e até de tesourinha.
Graciliano Ramos não era homem de navalha? Homens de revólver é que não são
uma categoria das que mais admiro: até parece que não são homens, para
precisar de uma proteção que lhes poderia propiciar, em caso de necessidade,
um simples canivete.
(*in **As melhores crônicas de Fernando Sabino**, *Rio de Janeiro, Record,
1986 - pp. 165-7)
sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010
O "capa grilos"
Transcrevo parte de uma explicação dada por Carlos Norte sobre o canivete "capa grilos"
"A navalha chama-se Relvas em honra da aldeia onde praticamente toda a população está ligada á cutelaria. Ou trabalham nas industrias de cutelaria da Relvas, Santa Catarina ou Benedita, ou são artesãos de cutelaria que ganham a vida a vender nas feiras as peças que produzem.
O modelo de inspiração desta navalha, é o famoso "capa-grilos", que pela forma muito característica da lamina, permite cortar com muita precisão com o bico da lamina. Por exemplo, ainda hoje é vendida para empresas de publicidade, pois é prática para trazer no bolso e cortar vinil com precisão.
A forma "lombuda" do fio, e a lamina mais larga na ponta, mostra que antigamente era forjada a martelo esticando e compactando o aço na zona onde ela precisa cortar melhor. Era e é uma peça para trabalhos de precisão com muito poder de corte, e uma ferramenta de trabalho usada em muitas profissões.
Históricamente, encontram-se navalhas muito parecidas em mais locais da Europa que reclamam a sua origem, mas quase sempre junto ao mediterrâneo, como a Itália e sul da França, o que leva a crer que se aqui já era fabricada à muitos séculos, terá sido um modelo com algum carisma pelo menos desde a idade média, e inventando um pouco, pode-se quase concluir que se espalhava por rotas marítimas junto á costa, muito provavelmente desde a idade do ferro.
Existe alguma controversia em relação á forma em curva do cabo, mas nos modelos mais antigos do "capa-grilos" a curva é quase sempre ao contrário desta navalha Relvas, ou seja, curvada para baixo em vez de curvada para cima"
segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010
As Navalhas tradicionais portuguesas
AS fotos que se seguem são parte de um projecto de recolocamento e investigação sobre as navalhas e canivetes tradicionais portugueses.
Foi tiradas de uma mini exposição realizada na casa Antero ,em dezembro de 2009,uma casa de petiscos muito conhecida nas Caldas da Rainha e que me pareceu um bom local para testar a reacção das pessoas aos modelos apresentados.
Os tres quadros compreendem uma mostra de modelos tradicionais,canivetes de trabalho e de colecção ,sendo inclusive uma das navalhas feita ,ou melhor refeita por mim.As gravacçoes e os desenhos são da minha autoria.A maioria dos modelos foram fabricados na fábrica CIOL .
Foi tiradas de uma mini exposição realizada na casa Antero ,em dezembro de 2009,uma casa de petiscos muito conhecida nas Caldas da Rainha e que me pareceu um bom local para testar a reacção das pessoas aos modelos apresentados.
Os tres quadros compreendem uma mostra de modelos tradicionais,canivetes de trabalho e de colecção ,sendo inclusive uma das navalhas feita ,ou melhor refeita por mim.As gravacçoes e os desenhos são da minha autoria.A maioria dos modelos foram fabricados na fábrica CIOL .
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